A paixão do brasileiro pelo café é muito grande, mas as dúvidas sobre os processos e o que pode interferir ou não no sabor final também é imensa. Pouca gente sabe, mas a torra do café é um determinante e influencia diretamente no sabor final. Para esclarecer algumas dúvidas frequentes, a barista formada pelo Senac e torrefadora de café certificada Maíra Teixeira traz algumas curiosidades sobre o processo de torrefação.
Cor, ou melhor, perfil de torra: qual a diferença entre a torra de café clara, média, escura?
Primeiramente, precisamos entender que o café́ também pode ser apreciado, assim como o vinho e cerveja. E pode ter diferentes tipos de aromas e sabores. O café́ também é experiência sensorial.
O torrefador é o profissional capacitado para torrar café́ e desenvolver perfis de torras diferentes para o café́ verde (cru), é ele que decide qual grau de torra é o ideal para o café́ escolhido.
Lembrando também que o café́ cru, assim como a uva do vinho, traz em si características do próprio local onde foi plantado (terroir), microclima do local e processamento pós colheita. Isso faz com que o torrefador já́ tenha algumas informações importantes na hora do estudo de torra, trazendo ainda mais precisão.
Torra Clara
A torra de café clara, por exemplo, traz ao café́ uma complexidade sensorial interessante, com mais acidez e notas aromáticas florais e frutadas. É uma bebida mais suave no paladar, mas muito complexa no aroma. Agradável e sempre surpreendente.
Torra Média
A torra de cor média é a preferida dos brasileiros, trazendo uma alta doçura, um pouco mais da intensidade do caramelo e chocolate. Geralmente uma bebida que o público em geral mais se identifica, boa para se tomar no dia a dia.
Torra Escura
A torra escura, que é um padrão da marca Starbucks, é muito comum para os americanos. Tem ainda mais intensidade e força, trazendo um amargor específico de torra. Um fator importante de se observar na torra escura é que ela precisa ser muito bem feita para se tornar mais agradável. Se passar do ponto, ela pode ser uma experiência negativa para quem toma aquele famoso “gosto de queimado”, que vale frisar que não é o gosto de café́.
Existe torra de café ideal?
Não. O importante é respeitar todo tipo de paladar e consumidor. Existem as pessoas que gostam das mais claras e outras das mais escuras. E tudo bem. A qualidade do grão e da torra são alguns dos pontos que precisam sempre estar em pauta. Há mercado para todos.
E, claro, se permitir experimentar outros tipos de torras e resultados de bebida pode ser uma experiência prazerosa. É preciso estar aberto ao novo e as possibilidades.
Sobre Maíra Teixeira:
Pesquisadora em história do café e análise sensorial, sua especialidade é a história da gastronomia e harmonização entre café e comida. Atua no mercado nacional de café especial com foco em consultoria para cafeterias, treinamento de equipe, cursos de barista e workshops. Acredita no café como uma ligação entre experiência sensorial e memória afetiva, principalmente para os brasileiros que carregam uma história econômica e cultural com a bebida.